Tuesday, October 23, 2012

Carta aberta a Angela Merkel

Dear Chancellor,

I am taking the liberty to address this open letter to you in anticipation of your visit to my country, Portugal, on the 12th of November.

I am sure your staff has prepared you well for this trip, but I would like to take this opportunity to express my views as a citizen of my country and as a citizen of our European project.

Many of my compatriots are eager to demonstrate against you and your position with respect to our debt and our financial position as a country. I can understand their anger, their frustration, and their desire for justice or even vengeance. I am asking for your help. I am asking you to walk, just for a day, in the shoes of a swelling number of my compatriots whose needs I am describing below.

We are all very well aware that Portugal has overspent well beyond its means to pay. And that Portugal has grossly misused funds that were available to us for very noble and worthy purposes.

But I would like to let you know that this Portugal I just mentioned is not the Portugal to which I belong. The Portugal I belong to, with many other of my loyal compatriots, has not spent over its ability to pay, and when this Portugal I belong to has borrowed, it has always paid with interest, in full and on time.

But even so, the Portugal that I belong to has been grossly ignored and has now been asked to pay the debt of the few who scandalously and wrongfully gained from all of the above misdeeds, and who are now spreading the debt to anyone in sight. But mostly the poor among us, making them even poorer.

And so, this Portugal that I belong to, instead of having hope in the future, looking forward to a new era, and becoming a strong and valuable partner in the European consortium, is walking around angry, demotivated and in mourning as the country is plundered, destroyed and reduced to cinders.

Examples of this destruction is now seen in the soup kitchens that grow in numbers and feed more and more people every day. These same soup kitchens now have waiting lists that grow longer every day.

This same Portugal has, over the more recent past, reduced its purchases at the supermarket. It used to buy meat, but reduced these purchases to pork. But even these have already been reduced to poultry. And many are now only eating sausages, if that much. This is visible in the most recent statistics.

In this same Portugal, where taxes are reaching a scandalous imbalance, the rich are getting richer, the poor are getting poorer and those in between are finding more and more in common with the poor. In this Portugal I am describing to you, more and children are getting to school without eating breakfast. More and more people, mostly the older people, are returning home from the pharmacy with only part of the prescription because they cannot afford to pay for all of the medication they need.

But, in this same Portugal, the rich, the governing elites and the corrupt influence peddlers are getting richer by the day, and more hated as the days go by. In the meantime, the superfluous official expenditures and benefits are being preserved. While government employees are being let go in the most important functions to society, such as education and the health services. There are many examples of Health Centers without bandages, syringes or surgical gloves.

There is more crime, more shoplifting, more violence, more distrust, among citizens and with respect to the institutions. There is less investment, less innovation, less entrepreneurship. More and more enterprises are declaring bankruptcy. And many individuals too. Every day that goes by our capacity to function as a peer within the European Community is being reduced. I would say, destroyed. The rupture in the social fabric is becoming scary to us all.

With all this there is less and less capability to pay for our past sins and misdeeds. There is a very strong mistrust in our government leaders.

I am not sure what has transpired at your level about my country. I have a strong feeling it is not the whole truth or even the truth. I have a strong belief that we are not headed in the right direction and that your office has not been well informed by the offices of my country.

There is a generalized feeling of revolt against the "Troika". But I think it is a derivative of our aversion to the measures and attitudes of our government who is seen as a team of puppets with no political savvy and negotiating skills.

There is a strong feeling among my Portuguese compatriots that Portugal should not pay its debt. But whether that is right or just, I do fear that Portugal, the way it is going, will not be able to pay its debt, regardless of whether it is right or just.

I would like to add, as a closing remark, that I do know I am not alone in my feelings, beliefs and convictions.

Thank you very much for your time and consideration.

Best regards,

Sunday, October 7, 2012

O meu neto emigrou

Olá Rodrigo,
 
eu e tua avó temos pensado muito em ti desde que vos deixámos no aeroporto. 
  
Estás bem? Estás contente? É bom estar na Alemanha com os teus pais? Sei que a tua viagem correu bem e que chegaste muito tarde a casa. Mas dormiste bem? Como é que foi acordar na nova casa? E hoje? Como é que foi? Vais fazer alguma coisa gira esta tarde? Já foram dar uma volta pela cidade? Já viste a tua escola? É bonita? 

Desculpa tantas perguntas, mas temos vontade de saber tudo, tudo! Os teus avós são assim, muito curiosos.
 

Tenho pensado em ti. A imaginar o que deves estar a fazer, o que deves estar a ver e a visitar. O que deves estar a pensar e a sentir. Deve ser tudo muito... Interessante? Giro? Excitante? Assustador? Tudo ao mesmo tempo? Deve ser muito bom! Quem me dera ser mosca na parede para ver tudo.
  
Amanhã é o teu primeiro dia de escola na tua nova cidade. Vai ser muito fascinante. Se calhar vais sentir um pouco de medo. Isso é normal. Mas logo, logo vais fazer amigos e amigas e já não vais ter medo. Depois vais ficar atrapalhado porque não percebes o que estão a dizer. Mas tu és muito esperto e vais aprender a língua muito depressa. Até os professores vão ficar admirados. Vais ver.
    
Vais estar muito ocupado com tudo. É tudo novidade. Até vai parecer que estás num planeta diferente. Mas quando tiveres tempo, manda-nos notícias para irmos sabendo como tu e os teus pais estão. 
  
Os teus avós são assim, muto curiosos.

Um beijinho para ti. 
Dá por nós beijinhos aos teus pais (não te esqueças).
Um abração daqueles que tu sabes dar,
o avô e avó que te amam muito.

Nota: O meu neto emigrou ontem com os pais.  Já temos saudades.

Portugal habituou-se...

Citação - “Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”.
   
É muito revoltante esta incessante privatização das capitalizações e esta democratização das dívidas... 

A essa do "Portugal habituara-se..." pergunto, "quem" em Portugal se habituou?

Esta pergunta necessita de resposta urgente! E esses "quem" que paguem! Eu não faço parte desses "quem".
  
Eu, não faço parte desse Portugal! 

Eu pertenço a outro Portugal! Eu pertenço ao Portugal de gente honesta que sempre trabalhou pelo que tem, e quando pediu emprestado, pagou com juros, a tempo e horas. Portanto, o "Portugal que se habituara..." então que pague!  O Portugal a que eu pertenço não tem nada a pagar!
  
Revolta-me sobremaneira esta constante e insolente democratização das asneiras cometidas por incompetentes gananciosos e irresponsáveis.
   

Para onde vamos...

Desabafo!
 
O primeiro ministro afirmou que este des-doverno sabe para onde vai.
Além de eu saber bem para onde deveriam ir, não acredito que saiba para onde vamos nem para onde devemos rumar.

 
Este des-governo não tem objectivos! 

Por isso não pode saber para onde vai.
 
Os polícias já não têm dinheiro. Esta é a última!
Os velhos não têm reformas. Tiraram-lhas.
A educação perde recursos. Tiraram-lhe.
A saúde perde capacidades. Tiraram-lhe.
A sociedade sente-se mal. Por falta de confiança no des-governo.
As despesas do estado não param. Ainda têm as benesses.
A economia perde poder de compra. Baixaram os salários.
Os impostos sobem. Para pagar as dívidas dos banqueiros.
As receitas baixam. Porque assim não podem subir.
E sabe para onde vai? Não sabe!
Pois deve saber. Para o fundo!
Mas não é para aí que devemos ou queremos ir! Sabia?
Será que o primeiro ministro sabe disso? Não sabe!
Tal como não sabe para onde devemos ir. Nunca soube!
Nem como lá chegar!

  
Mais uma vez mente aos portugueses!

Tuesday, October 2, 2012

Sexalescência

Se estivermos atentos/as, podemos notar que está a aparecer uma nova franja social: a das pessoas que andam à volta dos sessenta anos de idade, os sexalescentes : é a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.
 
Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica - parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa de jovens oprimidos em  corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.
 
Este novo grupo humano que hoje ronda os sessenta teve uma vida razoavelmente satisfatória.
 
São homens e mulheres independentes que trabalham há muitos anos e que conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram durante décadas ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a actividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.
 
Talvez seja por isso que se sentem realizados... Alguns nem sonham em reformar-se. E os que já se reformaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou da solidão, crescem por dentro quer num, quer na outra.
  
Disfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, preocupações, falhanços e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro da janela de um 5.º andar...
 
Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e activas, a mulher tem um papel destacado. Traz décadas de experiência de fazer a sua vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar.
 
Esta mulher sexalescente sobreviveu à bebedeira de poder que lhe deu o feminismo dos anos 60. Naqueles momentos da sua juventude em que eram tantas as mudanças, parou e reflectiu sobre o que na realidade queria.
 
Algumas optaram por viver sozinhas, outras fizeram carreiras que sempre tinham sido exclusivamente para homens, outras escolheram ter filhos, outras não, foram jornalistas, atletas, juízas, médicas, diplomatas... Mas cada uma fez o que quis : reconheçamos que não foi fácil, e no entanto continuam a fazê-lo todos os dias.
 
Algumas coisas podem dar-se por adquiridas.
 
Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração dos "sessenta", homens e mulheres, lida com o computador como se o tivesse feito toda a vida. Escrevem aos filhos que estão longe (e vêem-se), e até se esquecem do velho telefone para contactar os amigos - mandam e-mails com as suas notícias, ideias e vivências.
 
De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando não estão, não se conformam e procuram mudá-lo. Raramente se desfazem em prantos sentimentais.
 
Ao contrário dos jovens, os sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos.
Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflecte, toma nota, e parte para outra...
 
Os maiores partilham a devoção pela juventude e as suas formas superlativas, quase insolentes de beleza ; mas não se sentem em retirada.
 
Competem de outra forma, cultivam o seu próprio estilo... Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto, ou dos que ostentam um fato Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.
 
Hoje, as pessoas na década dos sessenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão a estrear uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas.
Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios...
 
Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que chegam aos 60 no século XXI ...
  
Autoria desconhecida