Friday, July 20, 2012

Acabem-se com as facturas!

Tenho tentado seguir esta azáfamada discussão sobre as facturas. Mais factura, menos factura. Recibo com e sem factura. Para certos valores, mas não para outros... Faz-me espécie!

Será que não estamos a perpetuar uma complicação criada há não sei quanto tempo, não sei por quem, nem porquê?

Porque não se acabam com as facturas? Sim!

Acabam-se com as facturas! Os recibos passam a ter a estatura que têm no mundo comercial. São a prova que houve aquela transação comercial. As Finanças que se acomodem! Porque é que o cidadão tem de arcar com os custos de umas Finanças arcaicas?

No supermercado eu pago com cartão do banco. Recebo um recibo com os itens todos descriminados... os serviços prestados, os produtos adquiridos, estão todos discriminados. Os participantes na transação também estão bem identificados. Ah! Mas não é factura! Dizem-me. Não? Mas porquê? Mas o que é a factura afinal? Mais um papel com um número que não serve para ninguém, excepto as Finanças? Pelos vistos, né?

Porque não aplicar às Finanças um pouco da medida de contenção de custos que tanto impõem ao cidadão? Ou seja - acabam-se as facturas e os recibos passam a ser o documento comprovativo da transação. Recibo passa a ser factura! Ponto final!

Ainda não consegui identificar uma razão sólida, sine qua non, para a existência da factura no nosso mundo de hoje. Noutros países o recibo é documento. Porque não cá?

Alguém sabe explicar?

Saturday, July 14, 2012

Zanzibar - Stone Town

Stone Town é a capital de Zanzibar. Deve o seu nome ao facto de que nos velhos tempos da sua existência era a única povoação com casas de pedra. Pedra de coral que forma a massa rochosa da ilha de Zanzibar.
  
Dhow no estilo original no Museu do House of Wonders

Stone Town fica virada para o continente africano. Talvez porque deste lado da ilha havia mais proteção para as embarcações que aqui se abrigavam das tempestades, talvez porque aqui a natureza providenciou um porto fundo, talvez porque aqui havia água potável.

Stone Town foi uma encruzilhada de gentes a caminho dos seus destinos. Aqui vieram parar imigrantes vindos da Índia que aqui encontraram terreno fértil para cultivar especiarias. Aqui chegaram Árabes que traficavam em peles, especiarias e escravos. Aqui passaram por algum tempo Portugueses que, mandados por El-Rei, buscavam as riquezas do Oriente. E por aqui passaram Ingleses e Alemães durante as épocas mais recentes.

Destes ficaram os descendentes dos Indianos. Vieram e ficaram. Misturaram-se com os povos locais. Trouxeram especiarias que passaram a cultivar. Trouxeram o estilo das suas moradias que deram a Stone Town o seu aspecto característico. 
  
Varanda numa casa senhorial de origem indiana
  
As portas das moradias indianas foram construidas como eram no país de origem. Com grandes saliências de latão cuja utilidade era de proteger as moradias das investidas dos elefantes de combate. Aqui em Zanzibar não foram precisas mas a tradição manteve-se.
  

As suas vestes, bem adaptadas aos climas tropicais, influenciaram o modo de vestir dos que aqui viveram e ainda vivem. Principalmente as vestes das mulheres.

 
Os Árabes vieram, trouxeram a sua religião, o Islamismo e compraram escravos. Alguns criaram um ambiente déspota que durou algum tempo. Mas isto valeu-lhes a revolta dos povos oprimidos que os expulsou. Destes pouco ficou excepto a memória de um déspota que resolvia as discussões com o auxílio da sua metralhadora pessoal.
  
Memorial à escravatura. O personagem mais ao fundo representa o africano conivente
  
Muitos dos escravos capturados no interior do continente africano morriam pelo caminho. Os que sobreviviam eram enclusurados em pequenos compartimentos na cave do edifício que servia de mercado de escravos.
  
 Sala de espera para escravos. O pé direito tem 1,20m.
  
Os Portugeses passaram por aqui e tentaram conquistar os locais à lei da força. Compraram e venderam escravos, actividade que ainda hoje é duramente lembrada. Não cultivaram nada. Deixaram o costume de uma garraiada na Ilha de Pemba (não é a de Moçambique).
  

Deixaram a influência da língua numas 50 palavras que passaram a fazer parte da língua local, o Swahili, uma língua de origem Bantu.
  

Dos Ingleses ficou uma memória associada à luta contra a escravatura. David Livingstone ficou imortalizado nos mais requintados detalhes do interior da Catedral Anglicana em Stone Town.
  
  

Dos Alemães pouco se fala. A sua influência ficou mais vinculada às terras altas do país do Tanganica que depois de se juntar a Zanzibar deu origem ao que hoje é conhecido por Tanzânia.
  
Stone Town orgulha-se muito nos seus. Entre os seus filhos conta-se Freddie Mercury cuja família ainda reside na cidade.
  
  
O local da casa dos Mercury, a loja onde se podem comprar CDs e fotos do falecido cantor, e a porta da casa (acima) fazem parte do roteiro turístico de qualquer guia que se preza.
 

Saturday, July 7, 2012

Os requintes do "não" daquele país

No país do não, a que fiz referência num post anterior, desenvolveram-se, ao longo dos tempos, várias versões do não. É natural. Os esquimós têm umas 50 palavras para neve. Os povos das ilhas do Pacífico têm mais outras tantas palavras para vento. Pois este país do não também tem várias versões do não. Eu explico.
 
Há, por exemplo, o não sincopado, curto, imperativo, sem recurso, sem apelo nem agravo. Este não soa mais como um não em que o o quase desaparece. A ênfase está no ã. É dito com voz mais grossa e num tom de voz determinado - o! Assim, curto, como um café do mesmo nome. Que faz logo a tensão subir. É o não do não me chateies!
 
Há o não tolerante, displicente, de certo modo rebaixante, quase que um tás parvo ou quê. É dito esticado. Tão esticado quanto a nossa tolerância permitir. Este não soa mais como um nãããã..., ou um náááá.... É o não que se usa antes de um tás a sonhar com ladrões. É o não que premite indicar ao interlocutor que acabou de dizer a maior asneira do mundo sem ter que o dizer cara a cara. Percebi que dá muito jeito este não.

Não se deve confundir este não com o não mimado, um tanto agastado, mas amigável. Este não também é alongado, mas é dito com uma voz torneada de mimo, uma voz num tom mais agudo do que a voz natural. Mais ou menos um nãããuuuumm... É pronunciado com ênfase nas duas sílabas do não. É o não da jovem de olhos arregalados a quem o namorado insiste em fazer umas carícias um tanto íntimas em público, de que ela gostaria, mas que acha que não devem fazer isso ali no banco do jardim. O fator importante aqui é o tom de voz mimado. Aquele tom de aceitação inundado de uma recusa que pode quebrar a qualquer momento. O tom de voz e as nuances na entoação distinguem este não de todos os outros.
  
Há depois o não indiferente, descontraído, distraído, despreocupado, cool. Este não também tem de ser dito num tom de voz mais agudo. Mas mais do que o não anterior. Pelo menos uma oitava acima do nosso normal. Quase esganiçado. O não que quer dizer não sei porque é que estás preocupado com isso! É o não que precede um não estou nem aí. Por exemplo - já foste lavar os dentes? Não! É esse mesmo!
 
Descobri outro não mais recentemente. É um não que tem várias partes. Aprendi esse não numa situação que passo a descrever. Foi assim. Um adulto disse a uma criança - não! Aquele não curto, imperativo, parecido com a bica que mal molha o fundo da chávena. Mas a criança continuou a insistir e o adulto disse então à criança - que parte do não tu não percebeste? Eu não quiz entrar na conversa, mas apeteceu-me perguntar ao adulto que parte era essa. Mas deixei. A conversa não era comigo. No entanto ficou muito claro para mim que há um não que tem várias partes. Uma das quais a criança não percebeu. E eu, confesso, também não.
  
Deve haver mais nãos. Eu é que tenho de puxar pelos meus dois neurónios para pensar noutros. E já agora vou investigar essa do não com várias partes.
  
Dá para entender, não? Os anglo-saxónicos dizem - you understand, right?  No país do não diz-se - percebeste, não?


Thursday, July 5, 2012

Ngorongoro III - rixas antigas

Esta foi outra situação em que o nosso guia inverteu a marcha, em pleno mato, e excedeu o limite de velocidade para depararmos com uma caçada feita por uns leões, mas que as hienas já tinham invadido. Rixas antigas.
 
 
A cena com que nos deparámos foi de duas leoas que embora parecessem ter a barriga cheia estavam com um ar muito chateado.
 
 
Do outro lado do riacho um leão ainda jovem descansava também com um ar de quem não lhe tinha pago.
  
  
No riacho havia uma algazarra, um cagarim, de todo o tamanho. Ouviam-se berros, latidos, uivos, que vinham de uma massa de bichos que não levou muito tempo para identificar como hienas. Eram as hienas todas da vizinhança mais as amigas, as primas, as mães delas e mais umas quantas.
 
  
Atacavam com unhas e dentes qualquer coisa que estava na água lamacenta do riacho.
 
  
De vez em quando levantavam os focinhos como que a prestar atenção a alguma coisa que pudesse vir do lado de lá. Descobrimos mais tarde um outro leão também jovem que se tinha refugiado nuns arbustos.
  
  
De vez em quando saia da algazarra uma desgraçada molhada até aos ossos.
  
  
Depois saiu uma perna...
  
  
... e mais outra...
  
  
As costelas apareceram e já bem roidas. Eram já os restos de um búfalo que deve ter sido apanhado quando foi beber ao riacho.
  
  
Viram-se então uns chifres...
 
  
... mais um rabo...
  
  
Mas o festim continuava...
 
  
Por fim as hienas começaram a dispersar-se pelo terreno á nossa volta. Um dos leões e as leoas decidiram pela segurança ou pela sombra dos carros dos turistas que eram mais que muitos a esta altura do campeonato.
  
   
A festa tinha atingido o auge e o pessoal começou a debandar...
 
  
Deixando os leões no meio da estrada a pensar na vida.
 

Ngorongoro II

De dia desce-se até ao fundo da cratera. É como se se entrasse numa Arca de Noé.
















Ngorongoro é realmente uma Arca de Noé.

Ngorongoro I

Ngorongoro é um mundo à parte. A cratera em si precisa de tempo para ser apreciada. A primeira impressão é que a cratera não cabe na fotografia. É outra paisagem que vai da esquerda até à direita.
 
 
 
 
O fundo do poço, o fundo da cratera encontra-se a 1700 m de altitude. Estávamos a 2300 m de altitude no local onde as fotos acima foram tiradas. É a esta altitude que estão localizados os hoteis. Dentro da cratera não há acomodações. Para visitar desce-se até ao interior da cratera e sai-se de novo antes do por do sol. 

  
 
Ngorongoro é uma Arca de Noé em ponto grande. De forma oval, a cratera mede 18 km por 22,5 km. É impossível imaginar um vulcão daquele tamanho em atividade.
  
Do hotel a vista continua a deslumbrar... quer se olho para oeste...
  
  
Ou mais em direção a sul.


 
Mas de manhã, quando o sol desponta, a grandiosidade da cratera e a sua beleza natural até ferem a vista.
  
 
    
 
O hotel onde ficámos ficava virado a nascente.
 
Depois há a bicharada toda que vive naquele microcosmo. Mas esses ficam para o post seguinte.