Sunday, May 9, 2010

Saúde, energia solar e ROI

Estive num workshop patrocinado pela organização Construção Sustentável. Muito interessante! O assunto foi energia solar térmica.

Duas perguntas me saltaram à mente às quais responderam alguns dos membros do painel de apresentadores. Essas perguntas foram sobre Retorno sobre investimento (ROI) e payback period, especificamente aplicados à justificação financeira de novas instalações solares térmicas.

Ora estes conceitos têm sido usados por gestores de empresas e para tal têm valor quando o gestor se depara com duas alternativas de investimento. Foi para isso que estes instrumentos financeiros foram criados. No entanto também tem sido abusado.

Dizer que o payback period de um sitema solar é de 10 anos… quer dizer que é bom? que é mau? Ora só tem significado se comparado com outro sistema ou com outra oportunidade de investimento. O número de anos em si nada diz.

Por outro lado, na compra de uma residência ou de um carro, e não de um televisor ou de um DVD, porque a magnitude dos investimentos é muito diferente, ninguém pergunta se esta casa por €200.000 tem um ROI melhor ou pior do que aquela casa por €230.000. O mesmo acontece com a compra de um carro.

Um ROI teria valor sim se comparássemos o custo de uma casa com boa climatização e com todos os seus benefícios de conforto e os seus efeitos positivos na saúde, com uma casa sem climatização, que nos acolhe com uns chilling 17ºC a 75% HR no inverno, e uns 27ºC a 70% HR no verão, e nos deixa, durante os tais 10 anos de payback, com um payback de patologias pulmonares e cardíacas cujo valor não é fácil de quantificar. Aliás, seria ofensivo para qualquer cidadão ver um valor monetário atribuído à sua saúde e à dos seus.

Acho que nós, os intervenientes profissionais em projectos de energia solar, seja ela térmica ou fotovoltaica, temos de deixar de usar estes termos de medida que, a meu ver, apenas criam obstáculos subjectivos à aquisição de sistemas solares e desaceleram o ímpeto necessário não só para o futuro desta indústria como para o progresso do país em direção a uma menor dependência nas fontes de energia não-renováveis, que não temos.

Todos sabemos que o clima e outros factores socio-económicos trouxeram o povo português e o património construido ao estado em que está hoje. Sabemos também que os portugueses estão a investir em climatização, que a percentagem da energia consumida pelo secto residencial é significativa e vai crescer. Para contrariar este crescimento no consumo de energia, maioritáriamente de origem fósil, é minha opinião que não podemos esperar que as modas do solar peguem. Não temos tempo para tal. Os automóveis, e a indústria petrolífera, teve pelo menos 100 anos para se desenvolver e criar todos os efeitos ecológicos e climáticos com que nos debatemos hoje.

Não posso imaginar que tenhamos tanto tempo para esperar pelas modas. Além do mais temos objectivos para 2020 e 2050 o que os dá apenas 10 anos, no máximo 40, para agirmos em unísono. Acredito que como profissionais temos a responsabilidade cívica de, através de workshops como este, programas de educação a nível escolar e a nível de institutos de educação ao longo da vida, bem como por meios de marketing, acelerar esta onda de adopção de soluções solares para fins residenciais. Cinjo-me apenas a este sector. Outros sectores terão outras vertentes mas, sejam elas quais forem, deverão ser aceleradas tmabém. O tempo urge.

Pessoalmente, gostaria de ver esta indústria florescer a passo rápido e com firmeza no pé, atendendo ao alto nível profissional que nela participa.