Tuesday, November 1, 2011

Dia de finados

(dedicado a todos e todas que já partiram …)

Não sou apologista da veneração dos mortos mas aprendi, com anciãos de várias culturas, a respeitá-los, a apreciar o legado de sabedoria que nos deixaram, e a ouvi-los em certos momentos preciosos de silêncio.

Sem ordem certa nem tentativa de imprimir mais apreciação por uns ou outros, pois cada um ou uma deixou em mim impressões e sabedoria que nunca esquecerei, dedico estas linhas àqueles que já partiram e que sempre lembrarei.

À Marie, com quem sempre conversei como se nos faltasse tempo para contar tudo o que a vida nos tinha proporcionado e tudo o que a vida nos tinha tirado. As decisões que tomámos na vida e que nessa altura já pareciam tolas ou tolos fomos nós.

À Cinthia, mulher de armas, conselheira, amiga, compreensiva, que não julgava, que sempre foi além das suas forças para proteger os seus e que perdi quando mais falta me fazia. Ela sabia disso mas a doença foi mais forte do que ela e do que os nossos desejos todos juntos.

Ao Harold, um homem no fim da sua carreira na Terra que me acarinhou, me incluiu no seio dos seus queridos, e me tratou como filho. Um homem sem orgulhos, sem vaidades, dono de si mesmo, cuja partida chorei como uma criança.

À Rita, que nunca cheguei a conhecer bem como gostaria de ter conhecido, mas que me marcou pela sua amizade, pela sua sabedoria da vida, pela sua capacidade de sobrevivência às intempéries da vida.

Ao Afonso, meu tio, um homem que, como muitos de nós, teve de deixar a sua terra natal para fazer frente à vida. Um homem honesto, dedicado à sua família, aventureiro, embora por fora parecesse a essência da premeditação. Fez do país de outrem o seu país e lá criou os seus filhos, mas sempre teve no fundo do coração um pouco que o puxava à terra onde tinha nascido.

À Chloe, a gata mais nova, arisca, brincalhona, dona da casa, que vi transformar-se, em segundos, num farrapo de sofrimento que a ciência não conseguiu travar. Dias mais tarde apareceu-me em sonhos. Estranho à primeira impressão, mas que me acalmou do sentimento de impotência que a sua morte me causou. Apareceu para dizer que estava bem, que não me preocupasse. Apareceu? Ficção da minha mente? Não sei responder, mas apaziguou-me.

Ao Francisco, meu pai, um homem que, sem saber, me estava a proporcionar as oportunidades que depois fizeram de mim quem sou. Um homem com uma vida atribulada pela busca do amor, da verdade e da justiça.

Salvaterra de Magos, 1 de novembro de 2011

Nando Cruz

Extracts from a book yet to be “Angels in my life”

1 comment:

  1. tanta gente que nos deixa um vazio.... dificil de preencher. Mas eu não quero preencher os vazios deixados. quero recordar mesmo assim, e amá-los através da vida que vai fluindo em nós

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