Monday, January 11, 2010

Brincando com crianças

Deparo, cada vez mais, com crianças a brincar com o computador de mesa, ou a entreterem-se, horas a fio, à frente da televisão, sem amiguinhos ou amiguinhas com quem possam partilhar actividades adequadas à sua formação como crianças. Estas crianças da era digital com quem tenho lidado desenvolvem o que me parece ser uma falta de capacidade de interagirem com outros das suas idades e com adultos.

Parece-me vê-los adquirir os hábitos rudes e rebeldes dos personagens que vêm na televisão ou nos jogos digitais, muitos destes com um alto teor bélico. Quando os vejo chegar a casa de alguém, noto que não cumprimentam as pessoas que lhes abrem a porta. Quando se acomodam no quarto ou na sala onde poderão brincar, vejo-os a atirar coisas ao ar ou ao chão como se tudo fosse indestrutível ou arma de arremesso. Realmente na televisão e nos jogos digitais basta fazer um "reset" para que as peças partidas e destruídas voltem às posições iniciais como se nada tivesse acontecido. À saída também não se despedem de quem fica.

Mas vejo também que os adultos, mais especificamente os pais, se acomodam na sala a conversar sem muito se preocuparem com as gritarias, os barulhos e até estrondos, ou os silêncios, das crianças no outro quarto para onde foi determinado que ficassem a brincar.

Pergunto-me se os adultos não precisarão de brincar mais com as crianças. Sei que brincar com crianças não é fácil para os adultos. As crianças aplicam à brincadeira em que se empenham uma atenção e uma dedicação a que os adultos já não estão habituados. Perdemos, ao longo dos tempos, essa capacidade. Dedicámo-nos a outras brincadeiras a que chamamos de actividades sérias, porque os adultos só se dedicam a actividades sérias, ou a jogos de adultos.

Acho que temos, como adultos, de dedicar mais tempo a jogos com as crianças. Jogos que lhes ensinem como interagir com outros, que lhes ensinem capacidades manuais e intelectuais e os ensinem a ganhar e a perder, porque na vida é assim, precisamos de capacidades manuais e intelectuais, perde-se e ganha-se.

Há dias, enquanto procurava informações sobre jogos e brincadeiras para crianças, daquelas que jogávamos à mesa, na rua, e no jardim, deparei com um website brasileiro chamado Jogos Antigos. Nesse site, na secção sobre Jogos Infantis, deparei com a seguinte afirmação:

Acho interessante, porém, procurar incentivar nas crianças a competição, mas de uma maneira saudável, de forma a ensinar a necessidade de se seguir regras, de não "roubar" e principalmente, de se aprender que, na vida, nem sempre se ganha.

Pensei, é isso. Precisamos de adoptar jogos que embora pareçam antigos, são jogos que nos permitam interagir mais com as crianças e de caminho ensiná-los o que a televisão e os jogos digitais não ensinam. Aliás, estas tecnologias ensinam outras coisas, mas esses ensinamentos parecem-me errados.

1 comment:

  1. Estimado Nando
    Acabei de ler este seu artigo e vejo que comungamos das mesmas preocupações, por isso me interrogo, que sociedade estamos a criar? Mas quando alguém se insurge contra a violência na TV, vejo sempre os defensores da TV, a dizerem que a violência da TV não vai influenciar as crianças, porque a percentagem de actos desviantes é pequena e a maioria percebe, que aquilo que vê na TV, não é para levar em conta. Penso que é uma forma leviana de ver as coisas, porque uma das formas de aprendizagem, senão a principal, é a imitação e como diz, as crianças passam demasiado tempo à frente dos computadores e das televisões e têm por isso dificuldades de relacionamento interpessoal e quase sempre imitam os seus ídolos, que são sempre os vencedores e que por acaso, fazem sempre uso da força para imporem as suas ideias.
    Eu penso que estamos a criar uma sociedade violenta, mas tenho a esperança que, como sempre a Natureza se auto-regule, ou seja, outras forças se levantarão para combater os excessos, mas isso vai dar origem a muitos conflitos.
    Cordiais saudações
    António Silva

    ReplyDelete