Wednesday, May 8, 2013

Eu vi um país…


Eu vi um país pobre, prostituído, corrupto, de sorrisos esmorecidos. Nesse país eu costumava ver sorrisos. As gentes tinham um ar delicioso de olhares ternos e alegres. Mas eu vi um país triste. Um país disfuncional. Um país onde eu não percebi a que ponto acabava o vale-tudo propulsionado pelo drama diário da sobrevivência de uma vida em pobreza abjeta e onde começava o crime da corrupção descarada.
Tive medo nesse país logo à entrada. E ainda sinto medo dele. Pela estrada em direção ao nosso destino eu vi machambas plantadas no meio do nada onde crescia milho que parecia saudável e bem desenvolvido logo ao lado da cabana retangular de caniço cheia de frestas por onde podia entrar tudo. O pó, o calor, o frio, o vento, os olhares indiscretos, além dos muitos mosquitos que por todo o lado sugam a vida a muitos infortunados deixando para trás os mais pequenos e os mais velhos ainda mais desafortunados para serem sugados mais tarde.
Tive pena dos habitantes dessas inúmeras palhotas de caniço junto à estrada. Não consegui imaginar os habitantes das outras palhotas que não consegui ver, encobertas pelas palhotas mais próximas, onde o sufoco da vida deve atingir um nível que, para mim, é absolutamente incompreensível.
Tive medo dos bandos de rapazes e homens que tentam angariar um pequeno negócio de serviços duvidosos a turistas incautos ou visitantes inexperientes no funcionamento destes pequenos esquemas e expedientes. Tive pena das mulheres que pediam boleia à beira da estrada para irem não sei onde ou regressarem a casa não sei de onde. Não imagino o que as levaria para tão longe das suas habitações. Mas a vida deve ser muito penosa e perigosa para essas mulheres.
Senti muito receio pela vida das carradas de gente humilde empilhadas em camionetes de caixa aberta em que viajavam sentadas nos varais e apoiadas apenas umas às outras como gado miúdo que eu vi, quando era criança, transportado pelas estradas rurais.
Senti horror pela imundície das poças de água à beira da estrada. Imundas, escuras, cheias de plástico despedaçado, de restos de lixo irreconhecível que tornava em fétidas essas águas que há pouco tempo foram límpidas gotas de água das chuvas. Poças de água que faziam de parque de diversão para a criançada. Fez-me tristeza pensar que seriam essas poças o local de diversão para as matilhas felizes de garotos incautos. E temi pela sua saúde e pelas suas vidas.
Ao longo da estrada ou na cidade não vi diferenças exceto na altura e estrutura das habitações e na presença dos ghettos protegidos por guardas e por fiadas de arame farpado eletrificado onde vivem em segurança e luxo os mais afortunados. O lixo, a imundície, a pobreza, a fragilidade da vida era igual. Pensar em como esta gente é sugada da sua alegria de viver, da sua dignidade é-me muito penoso.
Tive medo do que vi nesse país. As grandes desigualdades sociais e económicas acabam sempre por gerar ressentimento e violência.

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