Eu conheci esse país noutros
tempos. Nessa altura as avenidas eram largas, rasgadas de lés a lés. Essas
avenidas em linha reta eram apreciadas por todos quantos as percorriam. Quer por
quem lá vivia mesmo na azáfama do dia a dia, quer por quem visitava.
Hoje essas avenidas ainda lá
estão e ainda suscitam orgulho aos que lá viveram e saudade dos tempos da nossa
juventude quando por lá andámos a pé ou de bicicleta, sob o mesmo sol
inclementemente tropical.
Os edifícios eram o orgulho embora
muitos não fossem adequados ao clima. Eram de uma construção que tentava imitar
os edifícios da Europa distante. Só os edifícios do tempo anterior ao ar
condicionado apresentavam características mais propícias ao clima quente e
húmido dos trópicos.
Hoje esses edifícios sem condições tropicais
ainda lá estão, delapidados, sem pintura, com grades até ao último andar,
sujos, sem elevador, onde frequentemente falta a água e a eletricidade. É assim cá, dizem os locais. Welcome to Africa, dizem os mais cultos.
Os edifícios novos continuam a
ser apenas imitações pouco apropriadas ao clima. Com telhados sem respiração e
beirais sem ventilação. Alguns, imitando a arquitetura angular moderna ostentam
coberturas planas com varandas que não dão vista para nada. Toda a falta de
adaptação ao clima tropical é suprida por aparelhos de ar condicionado.
Os edifícios de residências pomposas
mostram a baixa qualidade dos construtores locais. Há buracos nas paredes.
Restos inacabados de pontos de luz que não foram instalados. Muros que nunca
foram terminados por cima embora já pintados. Os degraus desiguais são
acidentes à espera de acontecer. Portas de madeira maciça empenada, mal acabada
e mal aparelhadas. A imperfeição é generalizada e de mau artesanato.
Estas casas são as que
encontramos nos ghettos de ricos. Todas protegidas por guardas, arame farpado e
vedações eletrificadas. Por trás dos
muros trabalham uns poucos cidadãos locais privilegiados que servem os patrões
que hoje pertencem a uma elite com mentalidades do pior que a raça lusa jamais
produziu.
No tempo em que eu lá vivi havia
uma camada social de colonos que tendo atingido neste território um nível de
vida muito superior aos que tinham tido na sua terra natal adquiriram os
hábitos boçais do novo rico. Tratavam a população local com desdém e muitos até
com soberba insultuosa.
Hoje a maior parte dessa gente
já lá não está, mas os que lá estão mantiveram o mesmo desdém e a mesma soberba
para com os mais fragilizados que exploram sem remorso. Welcome to Africa, dizem eles.
Tive pena dessa gente e receio
pelo seu futuro. É triste e por vezes revoltante essa África que eu vi.
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