Wednesday, May 8, 2013

Aviso aos navegantes IV


Quando toda a papelada estava pronta, no nosso caso preenchida por um despachante que também era funcionário da companhia de seguros com quem contratámos o seguro contra terceiros, apareceu de novo o despachante com um fiscal da alfândega para verificar o carro e qualquer conteúdo que pudesse estar sujeito a impostos alfandegários.
Os fiscais neste posto de fronteira verificam praticamente todos os carros. Mas a postura do fiscal, durante a fiscalização permite que se coloque no bolso do funcionário uma taxa informal que acelera a verificação e evita um escrutínio eficaz da bagagem dos viajantes.
Eu não sabia dessa cerimónia, dessa dança. E fiquei ali a tentar convencer que as caixas de cartão que levávamos no porta-malas continham canetas, cadernos escolares, livros e algumas roupas que tinham sido doadas e destinavam-se a um orfanato que apoiamos. O sorriso do fiscal, perante a minha explicação, deu-me a entender que não tinha acreditado na minha explicação. Mas o fiscal também não quis ver o conteúdo das caixas e verificar se o que eu tinha dito era verdade. Perguntava-me só qual era o valor do que eu levava.
Mencionou que havia ali assunto para deter tudo na alfândega. Que eu tinha dito que era tudo sem valor mas que afinal não era, portanto eu tinha feito uma falsa declaração. A certo ponto desta conversa, a minha companheira de viagem, que tinha ficado no carro para que não fosse assaltado, tremia e transpirava de medo. Eu não tremia mas transpirava e pela mesma razão.
O fiscal acabou por me perguntar porque é que eu não lhe dava €100. Voltámos de novo às avaliações arbitrárias do valor da mercadoria. Finalmente pediu €50. Senti que tínhamos chegado ao último preço. Dali iríamos ao escritório alfandegário e isso seria bem pior. Dei-lhe os €50 e saí dali angustiado, revoltado, com medo e com náuseas.

No comments:

Post a Comment