Quando toda a
papelada estava pronta, no nosso caso preenchida por um despachante que também
era funcionário da companhia de seguros com quem contratámos o seguro contra
terceiros, apareceu de novo o despachante com um fiscal da alfândega para
verificar o carro e qualquer conteúdo que pudesse estar sujeito a impostos
alfandegários.
Os fiscais neste
posto de fronteira verificam praticamente todos os carros. Mas a postura do
fiscal, durante a fiscalização permite que se coloque no bolso do funcionário
uma taxa informal que acelera a verificação e evita um escrutínio eficaz da
bagagem dos viajantes.
Eu não sabia dessa
cerimónia, dessa dança. E fiquei ali a tentar convencer que as caixas de cartão
que levávamos no porta-malas continham canetas, cadernos escolares, livros e
algumas roupas que tinham sido doadas e destinavam-se a um orfanato que
apoiamos. O sorriso do fiscal, perante a minha explicação, deu-me a entender
que não tinha acreditado na minha explicação. Mas o fiscal também não quis ver
o conteúdo das caixas e verificar se o que eu tinha dito era verdade.
Perguntava-me só qual era o valor do que eu levava.
Mencionou que
havia ali assunto para deter tudo na alfândega. Que eu tinha dito que era tudo
sem valor mas que afinal não era, portanto eu tinha feito uma falsa declaração.
A certo ponto desta conversa, a minha companheira de viagem, que tinha ficado
no carro para que não fosse assaltado, tremia e transpirava de medo. Eu não
tremia mas transpirava e pela mesma razão.
O fiscal acabou
por me perguntar porque é que eu não lhe dava €100. Voltámos de novo às
avaliações arbitrárias do valor da mercadoria. Finalmente pediu €50. Senti que tínhamos
chegado ao último preço. Dali iríamos ao escritório alfandegário e isso seria
bem pior. Dei-lhe os €50 e saí dali angustiado, revoltado, com medo e com
náuseas.
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