A sensação de que estávamos a viver um filme foi nítida. Tínhamos dormido no meio da selva, num hotel onde as gentes nos deram um tratamento de 7 (sete) estrelas, rodeados de um silêncio palpável, numa noite estrelada como há muito tempo não víamos, e tínhamos acordado com o cantar da passarada. Estava a custar a creditar no que estávamos a viver. De vez em quando beliscávamo-nos para ter a certeza que não era sonho.
Mas ainda estávamos cansados das viagens de avião. Tínhamos saído de Johannesburgo a caminho de Addis Ababa onde tínhamos apanhado outro vôo de Addis Ababa para Arusha onde tinhamos chegado às tantas da madrugada. Por isso convencemos o Silayo que hoje só saíamos para ver bichos às 9:00 da manhã. Foi a primeira e última vez que ele nos tolerou este luxo. Daí para a frente passámos a sair às 8:00 como todo o turista que se preza.
Tinha chovido de noite e embora não tivessemos dado por nada a estrada não mentia.
O tempo, ainda nublado, favoreceu-nos. O calor não apertava e a bicharada andava à solta a fazer o que a bicharada faz. Quer haja turistas com máquinas fotográficas quer não.
Alguns ainda olharam para nós...
Outros, nem por isso. Como estas hienas, ainda preocupadas em carregar para local seguro o que restava de uma caçada que muito provavelmente não foi delas.
À sombra de uma árvore, completamente imóvel, este leopardo poderia ter passado completamente desapercebido. Mas não ao olhar do nosso guia. Silayo descobria animais nas sombras mais distraídas e inofensivas.
Nem sempre os animais estavam perto da estrada. E a nossa máquina fotográfica portou-se muito bem. A bicharada com cara de poucos amigos ficou com as caras que tinham. Era o que queríamos.
Silayo tinha um colega, o Isaque, outro guia que andava por ali, com quem trocava informações, sobre o que viam e não viam. Em Inglês soa como Áisac. Pelo que depreendemos os dois entendiam-se em Swahili. Mas quando o Silayo chamava pelo rádio, não era à primeira que o Áisac respondia. Mas o nosso Silayo não desistia - Áisac, Áisac, Áisac... até que finalmente vinha uma resposta.
Foi numa destas trocas de informação pelo rádio que, de repente, numa zona com limite de velocidade de 25 km/h, o Silayo deu a volta ao carro, e regressou ao local onde tinhamos visto o leopardo, a uns 50 km/h ou mais. Perguntámos - que se passa? Silayo respondeu - o leopardo atravessou a estrada.
Chegámos a tempo de ver o leopardo subir a outra árvore, realmente do outro lado da estrada...
E acomodar-se no seu novo posto de observação.
Não hove mãos a medir. O dedo indicador que acionava a máquina fotográfica não ganhou para o dia.
O dia estava fresco e a bicharada andava à solta...
Grande e pequenos...
Sonolentos...
E atentos...
Pequenos...
E grandes...
E, parecendo que não, assim se gasta um dia inteiro em África... quando menos esperamos são horas de regressar. A sorte é que o filme destas máquinas modernas estava em saldo. Só não estavam em saldo as pilhas que custavam € 7 cada duas. Preço especial para turista.
Até no terreno do hotel havia bicharada... e à noite, para ir para o quarto era preciso chamar o guarda florestal para nos acompanhar. Porque o htel fica mesmo na reserva e os bichos não respeitam os limites traçados pelos seres humanos. É uma falta de respeito...
Com as tuas descrições tão vividas revivo a nossa viagem.
ReplyDeleteSaudades dos bichos, das pessoas, dos cheiros e sabores.
Os olhos ficaram cheios de beleza, e o coração delirante.
Bem hajas pelos teus registos