Hoje acabei de ler alguns dos artigos que me faltavam ler na edição de sábado
do meu jornal favorito. Deprimente, foi a palavra que me veio ao pensamento. Os
temas abordados são-nos já familiares, crize financeira, licenciaturas de fim
de semana, incêndios e vidas destroçadas, crimes hediondos cometidos tanto por
meros cidadãos e como por governantes conhecidos, défice das receitas do
estado, juros a subir e a descer, mais impostos, mais desempregados, menos
postos de trabalho, comportamentos duvidosos ou descaradamente corruptos dos
governantes e outros políticos, enfim, um enxorrilho sem fim de males e
maleitas. Qual delas a mais deprimente.
Fiquei a pensar na
situação atribulada que envolve o nosso país. Tentei ler nos comentários de
economistas possíveis soluções para o caos em que vivemos. Não encontrei nada
que me convencesse. Apenas mais do mesmo neo-liberalismo que nos trouxe até
aqui.
Um artigo, por exemplo,
mencionava o enfraquecimento da classe média ao longo das últimas décadas e a
necessidade de reconstruir o poder de compra dessa classe média. Isto iria
incentivar o consumo nacional e portanto iria propulsionar a anémica e
letárgica economia. As grandes empresas precisavam porém de manter os seus
custos baixos para poderem competir no mercado internacional e assim venderem
mais, propulsionando a economia e a criação de postos de trabalho.
Ou seja, uma classe
média fortemente dependente das empresas que mantiverem a competitividade à
custa da classe média. E eu pensei, à custa de baixos salários pagos à classe
média que o economista achava ser chave na recuperação da economia. Acho esta
lógica circular. Sempre achei. Veio-me então à mente a frase atribuída a Albert
Einstein - os problemas significativos
que enfrentamos não podem ser resolvidos com o mesmo nível de pensamento em que
estávamos quando os criámos.
Realmente! Temos de começar a pensar de modo radicalmente diferente.
Mas permitam que elabore
mais um pouco o pensamento circular acima. A classe média iria portanto receber
salários mais baixos para que a empresa pudesse ser lucrativa e competitiva. E
com esses salários mais baixos essa classe média fortalecida iria consumir mais
e assim iria incentivar as vendas das ditas empresas.
Ocorreu-me então, eureka, que enquanto os nossos postos de
trabalho, o nosso poder de compra, os produtos de que necessitamos continuarem
a depender das grandes empresas não sairemos deste labirinto. Enquanto as
grandes empresas dominarem o horizonte económico não será possível sair do problema
que criámos. Nunca teremos uma classe média forte e nunca nos livraremos da
probreza.
Uma classe média forte
tem de depender de alternativas, de variedade nas oportunidades de emprego. Uma
classe média forte não pode por um lado exigir remunerações dignas do ser
humano e ao mesmo tempo produzir a baixo custo para as mesmas empresas. Com
poucas oportunidades de trabalho as empresas estarão sempre em posição de
controle no que se refere a níveis salariais. É o pesadelo da lei da demanda e
da oferta a funcionar. Não vejo nem regras nem leis que travem esta realidade.
Isto é, um mercado de
trabalho com muita oferta e pouca procura, e a automatização continuará a reduzir
a procura, não permitirá uma classe média forte, nem a ausência de uma classe
pobre. É uma classe média sem resiliência aos embates dos mercados, esse
monstro que aparece em todos os artigos dos jornais.
Uma classe média forte
só pode existir quando houver uma classe empreendedora diversificada, dinâmica,
competitiva e abundante. Uma classe média forte terá que ser também empreendedora.
Isto leva-nos a um modelo económico onde prevalecam as pequenas e médias
empresas. Onde o trabalhador tem oportunidade de criar os productos de que
precisa. Onde os regulamentos são feitos para proteger o ser humano e não para
criar barreiras de entrada a novas oportunidades empresariais.
Uma classe média forte
tem de ser productora de bens de consumo. Desde os mais essenciais até aos mais
lúdicos. É neste campo que o movimento internacional das Transition Towns, das Comunidades
em Transição faz muito sentido. Um movimento cívico que defende e promove a
resiliência das comunidades. Que incentiva a auto-suficiência das comunidades,
grandes e pequenas, em tudo o que seja de necessidade básica.
As Comunidades em
Transição, com dinâmicas representações em Portugal, estão a pensar como dizia
Einstein - os problemas significativos
que enfrentamos têm de ser resolvidos com um nível diferente de pensamento. Não
podem ser resolvidos com a mesma mentalidade que tínhamos quando os criámos.
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