Sabemos que há hoje muita coisa que não está
bem. E aquilo que ainda está bem
continuamos a perder. Perdemos
produtividade, perdemos competitividade, perdemos mercados, perdemos postos de
trabalho, perdemos reformas, direitos adquiridos pelos quais muita gente
trabalhou uma vida para conseguir. Perdemos regalias e benefícios que noutros
países são considerados como parte integral da condição humana como cidadãos desses
países e como Europeus. Perdemos bem-estar
social, perdemos gente nova que parte, perdemos o capital social de que o país precisa para ser melhor do que é, o
que não é difícil, diga-se de passagem, dado ao estado em que as coisas estão
agora nos fins de 2013.
Estas perdas definem sem dúvida uma crise. Não só económica como também social.
Mas aquela a que chamamos de crise
atual só veio trazer à superfície a outra crise que já há muito germinava
escondidamente à vista de todos. Essa
crise que já germinava à vista de todos vem de cá de dentro do nosso país há
muitos anos e com muitos contribuintes.
É uma crise muito mais nefasta e de muito longa vida.
O que nos faz colocar
a pergunta crucial - conseguiremos
mudar o que não está bem?
Acredito que sim. Mas
para mudar o que não está bem precisamos de partir da nossa atual posição de
queixume para uma posição de resolução do problema. Precisamos de definir o que
queremos que seja este país daqui a 5, 10, 20 anos.
Todos temos de olhar
para o horizonte e perguntarmo-nos – que
país queremos nós para os nossos filhos, e para os filhos dos nossos filhos,
para os nossos netos?
- Queremos um país que é conhecido mundialmente através da Transparência Internacional por ter índices de corrupção nada desejáveis?
- Queremos um país onde o setor informal, as atividades que fogem aos impostos, seja tão alta?
- Queremos um país onde a justiça, quando funciona, é só para os ricos? Ou apenas para as grandes empresas?
- Queremos um país onde os contribuintes pagam os impostos e as empresas e os políticos fogem ao fisco?
- Queremos um país onde abrir uma nova empresa necessita de cunhas e padrinhos?
- Queremos um país que é visto como sendo pouco interessante para os investidores?
- E que investidores queremos?
- Queremos os investidores das grandes superfícies que trazem postos de trabalho de salário mínimo?
- Ou queremos investidores com a mentalidade dos Mondragon do País Basco?
- Queremos investidores de países mais corruptos do que nós?
- Ou queremos investimentos de países onde a honestidade prevalece?
- Queremos um país onde as escolas estão sempre a perder recursos?
- Queremos um país que cria profissionais mas não lhes dá oportunidades fazendo-os emigrar?
- Queremos um país onde os idosos, (nós quando chegar a nossa vez), vivem no banco do jardim ou do café, longe dos cidadãos mais jovens, à espera da morte?
- Queremos um país com um dos melhores climas da Europa e com as habitações doentiamente menos confortáveis? Construídas ainda por profissionais do século passado? Com materiais e técnicas do século anterior a esse?
Que país queremos?
É por aqui
que precisamos de começar. Faienas inúteis como a que o Sr. Silva patrocinou
há umas semanas em Cascais não nos levam a lado nenhum. Para esta conferência
foram convidados empresários de ascendência Portuguesa bem sucedidos em cerca
de 50 países no mundo. A estes empresários foi pedido que falassem bem de
Portugal porque Portugal não era assim tão
mau como o pintam.
E eu fiquei a pensar.
Estes empresários foram embora de Portugal porque lá fora encontraram um clima
mais favorável para as suas actividades. Lá fora fizeram o seu sucesso. E é a
esses que estamos a pedir que falem bem de Portugal? Com que moral pode um
empresário destes fazer isso no país onde se radicou? Expliquem-me porque eu
não percebo! Juro que não percebo.
Todos estes fatores
estão interligados. Se queremos trazer para o nosso país investimentos onde
prevaleça a honestidade, investimentos de países Europeus ou nórdicos, onde os índices
de corrupção são muito mais baixos do que os nossos, onde a economia é mais
formal e menos por baixo da mesa, onde não se pratica a fuga ao fisco como cá, onde
a justiça funciona e é célere, então temos de mostrar que somos, como país,
credíveis e de confiança. E isso mostra-se fazendo o que é necessário para que
os índices deixem de enterrar o país aos olhos estrangeiros em vez de passarmos
horas a fio nos cafés argumentando que esses índices são suspeitos.
Se queremos investimentos
vindos de países onde se pratica tudo isto e com mais esmero e até com mais requintes
de malvadez do que nós praticamos, então estamos no caminho certo. Não acho que
esse caminho seja bom, mas para este objectivo, é o caminho certo.
Eu não tenho gostado de ver
este país cair no lodo em que está. Mas não é criticando e identificando os
problemas que sairemos desse lodo. Essa parte, a definição do problema está
mais que feita. Agora é altura de decidirmos que país queremos para daqui a 1
ano, 5, 10, 20 anos, e assim definir as iniciativas que têm de receber a nossa
atenção e diligência.
Uma vez definidas as
iniciativas, é uma questão de pormos mãos à obra. Os governantes des-governados que temos não sobreviverão neste país!
Mas temos de definir
que país queremos para daqui a 1, 5, 10, 20 anos.
2014 é um Bom Ano
para começarmos.
... e como definir se o poder de definição está nas mãos do poder? Acredito que só com uma alteração do regime instituído é que se pode começar a pensar em definir. O poder da corrupção é poderoso e escondem-se atrás da "democracia" que construíram para legitimar os passos que nos levam ao abismo. Depois, o povo português continua a eleger trapaceiros, aceita referendos à co-adopção, perde tempo nos cafés a criticar os que apoiaram. Enfim, penso que a grande mudança está na formatação cerebral deste povo que, tal como tão bem dizes, mantém os neurónios intocáveis desde os primórdios dos descobrimentos.
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