Thursday, February 21, 2013

Uma foto que me fez pensar




Não quero trazer tristezas a ninguém, mas estas fotos fazem-me pensar.

Pensar nos homens cujo suor lhes encharcou as faces  na construção destes muros sem fim. No carregar das pedras e no talhar das mesmas. Gente humilde, com boas mãos, artistas todos eles, que nunca ficariam na história.

Depois faz-me pensar nos que, de fardas à europeia, feitas com tecidos bons mas para o clima europeu, fizeram faxina e de sentinela nestas muralhas.

Quantas fomes passaram e quantas noites tentaram dormir nestas camaratas quentes como fornos de cal, onde os mosquitos se escondiam para à noite fazerem o seu festim e não deixarem dormir aqueles que daí a horas teriam de entrar de novo, pela infinita vez, de sentinela.

Ou voltariam ao malho para talhar mais pedra. Aquela pedra infinitamente repetitiva.

Mais uma noite abafada, sem uma aragem sequer. Nem o mar se deixava ouvir, tal era o ruído infernal que o silêncio da noite fazia.

Quantos homens passavam as horas de sentinela a devanear sobre aquela nau ou mais tarde aquele não menos nauseabundo e fumegante navio a vapor que os trouxesse de novo á terra de onde tinham saído apenas porque lá não havia emprego.

Mas mesmo se nunca voltassem, por uma razão ou outra, os seus nomes ficariam para sempre enterrados naquelas pedras.

Enterrados vezes incontáveis pelos brados sufocantes dos capatazes e pelos estalos dos chicotes que não paravam de se despenharem sobre estes homens.

Homens para sempre sem nome porque esses nomes acabavam por se despegarem dos seus corpos para sempre incógnitos.

Esses homens, sim. Esses foram os homens que nos deram este património da foto e que me fez pensar.

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quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2013

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