Francesco Alberoni
i – 9 de Janeiro de 2010
A recessão económica manifesta-se sobretudo como crise da fantasia, de criatividade, o encerramento num círculo restrito onde não se arrisca nada, nem sequer o cansaço de pensar. Se não podemos agir, deixamos de projectar e até mesmo de imaginar e sonhar. É exactamente o contrário do que acontece nas fases de grande expansão. Depois da Segunda Guerra Mundial surgiu um impetuoso desenvolvimento económico porque todos sonhavam com um mundo novo.
A criatividade não foi apenas económica, chegou a todos os sectores. Na ciência houve a descoberta do ADN, a teoria da informação, a teoria do caos. No cinema, realizadores como Fellini ou Hitchcock e actores como Marlon Brando, Sophia Loren e Marilyn Monroe. E também grandes pensadores, como Sartre, Camus, Lévi-Strauss e Raymond Aron.
Pelo contrário, na actual recessão prevalecem o medo e a prudência, pelo que não só não se fazem coisas novas, como também existe o medo do que é novo. Não surgem grandes empreendedores, grandes escritores, grandes pensadores, e quando isso acontece não são reconhecidos. O público recebe produtos decadentes e habitua-se ao que é medíocre e feio. Há alguns anos, a transmissão televisiva era assegurada por Bonolis, que inventava, improvisava de forma criativa e tinha um êxito capaz de pôr em perigo o telejornal satírico "Striscía la notizia". Hoje em dia, apesar de ser uma récita gasta, estereotipada e aborrecida, tem a mesma audiência. O mesmo se passa com a má ficção e os programas com as mesmas pessoas que dizem sempre as mesmas coisas. As pessoas não tentam compreender, contentam-se com as notícias, lêem biografias que são um chorrilho de mexericos. À falta do novo, chegou a vez do monstruoso.
Nas antigas feiras, as protagonistas eram a mulher-canhão e a mulher-serpente. Hoje, para conseguir público, o espectáculo tem de incluir um transexual, uma acompanhante, duas lésbicas, um príncipe e, se possível, um anão e uma gigante. Como se sai de uma estagnação que tem como contraponto o fecho das fábricas, a falência das pequenas empresas, o espectro do desemprego? Começando por abandonar os pântanos intelectuais. Não devemos estragar o gosto das pessoas com espectáculos, livros, filmes e música de má qualidade. Temos à nossa disposição a mais selecta cultura mundial. Tiremos proveito dela, abramos a mente ao que nos enriquece em termos emocionais e intelectuais. Estudemos, trabalhemos, inventemos um trabalho, uma actividade nova. Façamos o que sempre quisemos fazer e a que renunciámos por timidez ou medo.
Sociólogo, escritor e jornalista
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